Ensaio sobre a Música Brasileira sob a égide da interseccionalidade
Palabras clave:
música e ideologia, música e interseccionalidade, significação musical, musicologia decolonialResumen
Este texto tem como mote inicial propor um diálogo com o “Ensaio sobre a Música Brasileira” de Mário de Andrade, cuja motivação central era questionar a autonomia da consciência musical nacional e sua dependência de modelos estrangeiros. Se no modernismo animado por Andrade buscava-se promover uma emancipação estética que reconhecesse a música brasileira como resultado de um amadurecimento crítico dos artistas nacionais, validando-a como expressão genuína da arte brasileira, o presente texto objetiva reorientar estas discussões abordando forças que, contemporaneamente, remodelam as estratégias de inscrição crítica através da arte. Neste espaço, a interseccionalidade que surge do empoderamento de corpos dissidentes surge como um discurso que permeia a música que hoje se abre para a tomada de consciência crítica sobre a nação e suas mazelas históricas, como o preconceito racial, de gênero e sexualidade e condição social. Localiza este fenômeno nos entreatos das tensões sociais mal confessadas pelas camadas dominantes da sociedade e das políticas engendradas por um establishment que trata de conservar suas zonas de influência e poder. O texto discorre na direção da própria musicologia tradicional, que enfrenta dificuldades em analisar esses fenômenos devido a suas metodologias arraigadas em paradigmas de análises históricas constituídas e atuantes para a reflexão positivista que se desdobra para a afirmação colonizante. Neste sentido, o presente texto além de expor este cenário propõe um esboço teórico que parte considerando que a música, como qualquer outro campo social, forma sistemas autorreferenciais que se movimenta por trocas simbólicas. Sua base são as identidades culturais e sociais que criam metáforas próprias, sem, no entanto, romper com os pontos de acoplamento como o sistema produtivo/econômico, o jurídico, o tecnológico etc. Este ensaio faz parte de um projeto maior que busca repensar a musicologia a partir de um giro epistemológico decolonial, transcendendo fronteiras rígidas e hierarquias culturais para entender a música em sua complexidade sociopolítica.
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